Angola (também conhecida como África Ocidental Portuguesa, Angola Portuguesa; a partir de 1951 Província Ultramarina de Angolae,
finalmente, Estado de Angola em 1972) é o nome comum pelo qual a colónia portuguesa, no sudoeste da África era conhecida em diferentes épocas. A colónia tornou-se um país
independente em 1975
e hoje forma a República de Angola.
Nas suas fronteiras actuais,
a colónia de Angola só existiu meio século, a partir de meados dos anos 1920. É
certo que os portugueses estiveram presentes no litoral deste território a
partir do fim do século XV, estabelecendo sucessivamente - essencialmente para
fins de tráfego de escravos e outro tipo de comércio - postos comerciais e,
sobre tudo, as praças fortes de Luanda e de Benguela cujas áreas circundantes foram ocupados. Uma penetração e conquista do interior começou
apenas no século XIX. No fim deste século a "colónia de Angola"
estava constituída, mas uma delimitação definitiva e "ocupação
efectiva" do território não foi alcançada antes de 1926.1
Durante o domínio colonial
português sobre Angola, cidades, vilas e postos de comércio foram fundados,
ferrovias e rodovias foram abertas, portos construídos - tudo ao serviço de uma
economia colonial moldada de acordo com os interesses da Metrópole Portuguesa e da crescente comunidade
de portugueses que se estabeleceram em Angola - como colonos ou ao serviço de
empresas e da administração estatal. Uma base essencial para esta economia foi
a exploração sistemática de recursos naturais e da população africana,
discriminada de acordo com critérios raciais e culturais.2
Uma vez que o sistema
colonial precisou cada vez mais de uma mão de obra africana qualificada, desenvolveu-se de forma hesitante um
sistema de educação.3 Nos anos 1950 houve uma "massa crítica" de africanos escolarizados com a capacidade de articular
uma resistência anticolonial nacionalista. Em 1961 eclodiu uma Guerra de
Independência de Angola que
ocasionou uma mudança radical da política colonial portuguesa: abolindo todas
as disposições legais discriminatórias, tentou ganhar a população africana à
concepção de uma integração num Portugal transcontinental. Este objectivo não
foi, no entanto, conseguido, e a Guerra Colonial
Portuguesa foi uma
das causas fundamentais para um golpe militar que, em Portugal, aboliu o regime salazarista e iniciou uma descolonização imediata de todas as colónias.
HISTÓRIA DE ANGOLA
A vida e
a história de qualquer país começam com o conhecimento da história cultural do
seu povo. Assim é para quem investiga os problemas complexos da jovem nação
angolana, que está, na atualidade, perante o seu maior desafio como país
independente. São muitas as questões enfrentadas, entre elas a de estabilizar a
economia, pacificar os espíritos marcados por mais de trinta anos de guerra civil, encontrar os rumos
da democracia norteada pelas reformas sociais para diminuir o estado de pobreza
absoluta que tem assolado todo o país, melhorar suas péssimas condições
sanitárias e ambientais.
Entre
todas as dificuldades a maior delas está em instituir um ponto final na
situação político-militar do país. Sem capacidade para resolução destas
variáveis estruturais, o povo angolano segue a sua trajetória histórica marcada
por longos retrocessos e pouquíssimos avanços na sua afirmação como nação
soberana.
A
presente dissertação teve origem no trabalho que realizamos naquele país, como
voluntário das Nações Unidas, durante os anos 1995 a 1997. Angola encontra-se
atualmente com péssimos índices sanitários, conseqüência dos longos conflitos
bélicos ocorridos no país. Para melhorar esses índices foi desenhado o Projeto
de Reabilitação Urbana e Ambiental de Lobito e Benguela, com o objetivo de dar
estrutura sanitária e ambiental às duas cidades que, em função do Porto de
Lobito, desempenham papel importante de corredor de exportação para os países
vizinhos e toda a porção central de Angola.
Financiado
por: Banco Mundial, Agência
Sueca de Desenvolvimento, Agência Norueguesa de Desenvolvimento e Governo
Angolano, o Projeto saiu do papel trabalhando com comunidades e beneficiando os
mais carentes da Província de Benguela.
Nosso
objetivo nesta dissertação foi descrever e analisar o projeto, uma vez que ele
apresenta aspectos inovadores: financia diretamente as ações do poder local e
da comunidade sem interferência do Governo Central; privilegia tecnologias e
ações de baixo custo; forma
recursos humanos nas comunidades locais.
Uma
avaliação de seus resultados pareceu-nos importante para identificar seu
potencial de reprodução em outras regiões africanas.
Para
melhor entendimento do projeto, consideramos necessário descrever primeiramente
o contexto histórico, geográfico e sócio econômico em que ele se desenvolve.
Desse modo, no Capítulo 1 dissertamos sobre
a história de Angola. (...)
CAPÍTULO
1 - CONTEXTO HISTÓRICO
A
FORMAÇÃO TERRITORIAL E A DIVERSIDADE ÉTNICA NA CONQUISTA COLONIAL
"Terra Gigante/terra Grande Gigante/De
Queimadas sem fim/terra Quente de mulatas/D’um Bronze-chocolate/É de negras Que
Remexem/Ao som do Batuque/Nas noites Quentes de Luar". (Rasgado,1996:11)
A
República de Angola é, depois do Congo (Ex-Zaire), a maior nação ao sul do
Saara. Com uma área de 1.246.700 Km2, foi durante quinhentos anos uma grande colônia
portuguesa. Angola está situada na costa
ocidental da África, em frente ao Brasil e tem fronteiras ao norte com a República Popular do Congo; a
nordeste, com a República Democrática do Congo ou Ex-Zaire; a leste com a
Zâmbia; e ao sul, com a Namíbia.
O
território tem um comprimento máximo de
1.277 Km no sentido norte/sul e 1.236 Km de leste a oeste. Em fronteira
marítima tem 1.680 Km e terrestre 4.928 Km.
A
formação étnica de Angola iniciou-se a partir da migração dos bantos, povos que
falam as línguas bantu, comum na África Oriental, Central e Meridional cujo
termo singular é muntu, que significa "homem", "pessoa".
Segundo o historiador Ralph Delgado, em 1482, quando os portugueses chegaram ao
estuário do Rio Congo, os povos bantos já se encontravam ali em diversos
reinos. Segundo Vansina (1985:556), "a expansão das línguas bantu pode refletir a ocorrência de grandes
migrações que terminaram bem antes do ano 1100".
No
entanto, a história desta população primitiva da África Negra só começou a ser
decifrada a partir do século XIX, quando o mapa do continente negro foi
discutido intensamente na Conferência de Berlim de 1884.
De acordo
com os etnólogos especialistas em África, a etnia Banto, compreendia vários
grupos como: Bakongos, Lunda-Cokwel, Mbundu, Ovimbundu, Ambós e outros pequenos
subgrupos, que se expandiram pela África a partir da zona equatorial.
A
penetração dos portugueses nos seus territórios teve início no reino dos
bakongos, atual Zaire, província de Angola ao norte do país. Dentro da visão expansionista
dos portugueses já havia uma consciência de que a conquista deste território
não seria fácil, porque os bakongos, antes da chegada do colonizador, já
dominavam técnicas da metalurgia, transformando ferro em instrumentos de
guerra, conseguindo assim hegemonia territorial sobre os outros reinos próximos
ao seu Estado.
Em volta
do reino bakongo havia outros Estados menores. Em virtude da distância do
centro, eram considerados independentes teoricamente, na prática respeitavam a
supremacia do "manicongo". (Manicongo: o mesmo que reino do Congo.
Compreendia Matamba e Angola).
"Entre estes reinos distantes destaque para
três: Ngoyo; Kakongo e Luango na costa do Atlântico a
norte do estuário do Congo, área conhecida como Matamba atravessado pelo vale do
Cuango a sudeste, e a região de Ndongo, que incluía quase toda a parte central
de Angola, de ambos os lados do Rio Kuanza. Quando houve os primeiros contatos
com os portugueses, o mais importante dos muitos pequenos chefes da região de
Ndongo era um que possuía o título hereditário de Ngola, que os
colonizadores deturparam dando mais tarde o nome de Angola à Colonia" (Oliver. R. E. Fage, 1980:139).
Em 3 de
maio de 1560, o navegador português Paulo Dias Novaes chegou à barra do Cuanza,
apesar de Diogo Cão ter sido o descobridor. A ocupação Lusa em Angola se deu
efetivamente no século XVI. Favorecido peladiversidade
étnica dos Bantos, Paulo Dias Novaes iniciou sussessivas
guerras contra os sobas que resistiam à ocupação. Segundo historiadores "do ano de 1579 até hoje, Angola não
teve mais do que 20 anos consecutivos de paz" (Folha de São
Paulo, 1996:1-12). Apesar da resistência, o avanço do colonizador era
incontestável, pois era uma luta extremamente desigual, valendo apenas a
bravura daqueles pioneiros na batalha contra a expansão ultra-marítima. Um
outro lado a considerar é que diversidade não cria unidade, desta forma a
estratégia utilizada pelo colonizador foi de criar desentendimento entre as
diferentes etnias, apoiados por outros reinos de seu interesse.
"Às surriadas de tiros das armas européias e
luso-angolanas, ripostavam verdadeiros chuvadas de flechas e pedradas nustras,
despedidas pelos indígenas. Por fim, a defesa cedeu, caindo na mão do exército
grande número de prisioneiros, entre os quais Ngunza-a-Mbambe e seus macotas,
imediatamente degolados, com muitos companheiros. Estava-se em 9 de agosto de
1679. Enterrados os mortos, tratados os feridos e restaurados as forças dos
sobreviventes, Luis Lopes de Sequeira prosseguiu a rota determinada pelo regimento,
isto é, deslocou em direção ao "Sobado" (provém de Soba – autoridade
tradicional de um lugar, chefe de tribo africana), de Quitequi Cabenguela,
causador da mobilização. Pelo caminho avassalou matumbo-a-Hoji e Catuculo
Caquariongo, sobas poderosos, o primeiro dos quais reforçou o exército com seus
homens de arco.
Findas oito jornadas de marcha, a coluna alcançou
um morro elevado, em cujas cumiadas se sobrepunha a senzala principal de Ngola
Quitumba, importante chefe negro da região, e fez alto neste ponto; e vindo a
saber, depois que se encontrava ali refugiado Quitequi Cabenguela, o grande
adversário a combater, abriu trincheiras e tomou todas as medidas para
conquistar a difícil posição" (Delgado,1955:30).
A luta do
povo angolano do ponto de vista da resistência representou o início de um
ensaio da libertação política, já que as determinações da coroa portuguesa eram
explicitas em direção a futura expansão territorial.
Durante
os anos que Paulo Novaes passou nas terras angolanas, pôde ver bem em que
condições poderia fazer a ocupação e a colonização portuguesa. Dentre as
informações colhidas sobressai uma, que dizia respeito às minas de prata do
Cambambe.
Paulo
Novaes na visita que fez ao reino, conseguiu despertar interesses do soberano
por aquelas terras. Ele deixou a impressão à coroa portuguesa de que poderia
fazer em Angola uma colonização agrícola fácil, semelhante à do Brasil. Soube
ver o perigo da infiltração das outras potências européias, que começavam a
olhar com cobiça para as terras além-mar. Como o Brasil, Angola teve o seu
período pré-colonial, quando os interesses da coroa portuguesa ficaram voltados
para outros territórios em virtude das condições mercadológicas do século XVI.
"Os colonialismos e imperialismos espanhol,
português, holandês, belga, francês, alemão, russo, japonês, inglês e
norte-americano sempre constituíram e destruíram fronteiras, soberanias e
hegemonias, compreendendo tribos, clãs, nações e nacionalidades. São muitos os
que reconhecem que os Estados Nacionais asiáticos, africanos e
latino-americanos foram desenhados, em sua quase totalidade pelos colonialismos
e imperialismos europeus, segundo os modelos geo-histórico e teórico, ou
ideológico, que configurou toda a Europa (Ianni,1996:41).
Não
poderia ser diferente a forma adotada pelos portugueses na ocupação e
colonização de Angola, adotando o sistema de capitanias. A diferença básica é
que a capitania foi atribuída ao próprio Paulo Dias de Novaes.
Tinha
trinta e cinco léguas de Costa, começando a contar da foz do Rio Cuanza para
Sul. No interior podia entrar até onde fosse possível, recebendo ainda outras
doações, que poderia escolher sob três condições: deveriam ser repartidas em
quatro partes; entre cada uma delas haveria pelo menos um espaço de duas
léguas; sendo aproveitadas no prazo máximo de vinte anos a contar da data da
posse. O capitão Paulo Dias de Novaes tinha obrigações como:
1º - Defender,
povoar e cultivar a terra, sem qualquer custo à coroa portuguesa;
2º - Construir três fortalezas nas terras do domínio real;
3º - Explorar toda a costa ocidental da África desde o Rio Cuanza até ao Cabo da Boa Esperança.
2º - Construir três fortalezas nas terras do domínio real;
3º - Explorar toda a costa ocidental da África desde o Rio Cuanza até ao Cabo da Boa Esperança.
O
donatário ficava, contudo, com uma larga margem de benefícios, porém sem
qualquer recurso da coroa. Nestas condições o mercado escravocrata foi uma opção
rentável, além da utilização de todos os recursos dos rios e portos que nestas
terras houvessem. Acreditava-se que D. Sebastião estivesse decididamente
resolvido a aproveitar ao máximo as terras africanas. Paulo Dias de Novaes
tinha ainda a obrigação de estabelecer as famílias européias na sua capitania,
sobretudo agricultores e os mais variados grupos sociais, independente da
procedência na antiga metrópole. Pretendia-se com esta medida espalhar naquelas
terras os costumes europeus e ensinar aos autóctones o aproveitamento das
riquezas naturais. Enfim, era um plano de colonização. Procurava-se evitar em
Angola os erros cometidos no Brasil, aproveitando a experiência adquirida para
os futuros indígenas nas terras de Ngola. Apesar de todo o planejamento o "rei de Angola não se mostrou tão fiel
aliado dos portugueses como o rei do Congo." (Santos, 1967:35).
Reagindo
a invasão, os sobas e os reinos dominados, iniciaram uma série de revoltas. As
mais importantes revoltas ocorreram no sobado da Kisama, e no sobado dos Dembos
que protegiam grupos de escravos fugitivos, do Ndongo, da Matamba, do Kongo, de
Kasanje, do Kuvale e do Planalto Central. Das pequenas revoltas, que foram
apagadas na história dos vencedores, algumas permaneceram como testemunho da
resistência, mostrando que as revoltas nunca cessaram na extensa capitania de
Paulo Dias Novaes.
1ª - A
Revolta de 1570: foi liderada pelo carismático "Bula Matadi", um
aristocrata, que vendo o perigo que corria o seu povo, fez uma guerra de
resistência para que não fossem explorados e dominados pelos portugueses. Bula
Matadi mobilizou toda a comunidade para expulsar os portugueses do reino do
Kongo, com a perspectiva de acabar com as intrigas que enfraqueciam o reino. Os
portugueses interviram militarmente ao lado do rei do Kongo, depois de muitas
batalhas Bula Matadi foi morto no último combate.
2ª - Resistência
no Ndongo: No reino do Ndongo, foi forte a resistência contra a chegada dos
portugueses. Com o espírito aventureiro, Paulo Dias de Novaes procurou o Ngola
a fim de se informar das riquezas que havia no Ndongo. Desconfiado das
intenções de Novaes, não lhe facilitou seu desejo e teve-o preso em Kabasa
durante cinco anos. Quando libertou o capitão português, ele regressou ao seu
país e voltou alguns anos depois com homens armados, dispostos a fazer a guerra
ao Ndongo, a partir da cidade de Luanda, onde se instalou e mandou construir
uma fortaleza.
Ngola
Kilwenje era então o rei do Ndongo. O seu exército conseguiu vencer os
portugueses em várias batalhas, embora as armas fossem simples arcos e flechas
contra as armas de fogo que os invasores traziam.
Contudo,
a resistência enfraqueceu à medida que alguns chefes foram abandonando a luta
e, quando Ngola Kilwanje morreu, o Ndongo foi aos poucos ocupado pelos
agressores. Muxima, Massangano, Kambambe foram caindo na posse dos portugueses
que construíram fortes nos pontos altos a fim de melhor vigiar e dominar as
populações. Algumas tribos e chefes sujeitaram-se a esta situação e pagaram
tributos em escravos aos capitães portugueses. Outros preferiam fugir das áreas
ocupadas e continuar a lutar, refugiando-se em zonas protegidas como as ilhas
do Kwanza.
3ª - Njinga
Mbandi: O maior símbolo da resistência ficou para a Rainha Njinga Mbandi,
que além da luta contra a ameaça do colonizador, conseguiu aliar os povos do
Ndongo, Matamba, Kongo, Kasanje, Dembos, Kissama e do Planalto Central. Foi
essa a maior aliança que se constituiu para lutar contra os portugueses. As
diferenças e interesses regionais foram esquecidos a favor da unidade contra o
inimigo comum. Esta unidade teve os seus efeitos positivos: durante vários
anos, os portugueses perderam posições e foram reduzidos a um pequeno
território de onde seriam expulsos se não recebessem reforços. Segundo o
historiador Ralfh Delgado em seu livro História de Angola (terceiro período, de
1648 a 1836),
"Desejando restabelecer a paz com o
Governador, depois de exaustivas lutas, a nova rainha mandou à Luanda
(principal base dos portugueses), uma embaixada, que alcançou os seus objectivos,
mediante a intervenção, por ela solicitada, de figuras eclesiásticas de realce
entre as quais o bispo. Proposto em 6 de setembro de 1683, o tratado de
vassalagem obedeceu a oito condições, estipuladas pelo Governador e aceites
pelos protetores da soberania". O destaque destes termos
está no item quatro, que na íntegra força a rainha a dar abertura em suas
terras para os forasteiros e caçadores de escravos "Será a mesma rainha obrigada a mandar abrir
os caminhos para o comércio, sem impedimento algum franquiar nas terras do seu
estado, e para que os pumbeiros possam ir e vir livremente sem que ela ou vassalo seu algum lhe possam
impedir, antes lhe mandará fazer toda a boa passagem e tratamento para que sem
dilações façam os resgates a quem foram encaminhados não se consentindo se
alterem as fazendas dos banzos que serão na mesma forma que sempre foram
sem engano ou imposto algum quibasco; ordenará outrossim que no seu quilombo se
pratique e corra somente o côvado de Portugal que é de três palmos, e o verdadeiro
por onde as fazendas neste reino se costumam vender, porém, as que nele se
medem por vara que é de cinco palmos se medirão também no mesmo quilombo; e
assim mais será a dita senhora rainha obrigada a consentir que os pumbeiros dos
moradores possam ir comerciar, com os potentados do reino do Sonso, Quiacar,
Punamujinga, Sundi, Casem e Damba, sem que disso possa impedir nem vassalo seu
algum; e o que este impedimento se atrever, de mais do castigo que lhe der,
será remetido a este governo para também por ele se mandar castigar; e para o
bom efeito deste ponto mandará abrir os caminhos aos pumbeiros para que sem
embaraço possam passar" ( Delgado, 1955:72).
O termo
pumbeiros é o mesmo que pombeiros: agentes na sua maioria formados por
mestiços. Os pombeiros trabalhavam com conta dos grandes chefes, sobas ou
militares portugueses. Durante um ou dois anos, internavam-se no interior de
Angola, trocavam os escravos por tecidos, vinho e objetos de quinquilharias,
voltando com uma centena de negros, homens e mulheres acorrentadas. Este
tráfico tinha o nome de "Guerra Preta" porque arrancavam sempre por
meios violentos os negros das aldeias. Contudo eram os próprios negros, entre
os quais os Jingas, que, levados pela ambição de possuir os objetos trazidos
pelos portugueses, faziam guerra aos seus irmãos de cor. Existia até uma moeda
especial para pagar os escravos. Em determinada altura, foi uma espécie de
conchinha, importada do Brasil, a que deram o nome de Jimbo. Mais tarde, um tecido
de folhas de palmeiras o "pano" substituiu o Jimbo. Muitas vezes os
auxiliares da "guerra preta" eram os próprios chefes negros, os Sobas
que trocavam os seus súditos por vinho, tecidos, sal ou pólvora. Os portugueses
forneciam auxiliares a estes sobas: um dos seus soldados servia igualmente de
guarda e ordenança. Como
constatamos neste documento do século XVII, o comércio, a espionagem e a
evangelização, sempre foram armas imprescindíveis na conquista colonial. Há
quem pretenda que as razões econômicas estão na base da infiltração portuguesa
na África, mas nesse período histórico todas as formas para subordinação foram
utilizadas com estratégias traçadas e coordenadas a partir das principais
falhas das futuras colônias, principalmente na composição étnica de território
Angolano. Os acordos de vassalagem foram extremamente desiguais na composição
do reino do Sonso, Quacar, Puriamujinga, Lindi, Cassem e Damba, pois a passagem
dos pombeiros teve a garantia do governo central, cabendo aos vassalos, sobas e
toda a comunidade indígena de Angola aceitar as condições acordadas na base da
imposição militar. Na revolta da Rainha Njinga Mbandi, apesar da sua percepção
para uma possível unificação étnica na luta contra o colonizador, a questão da
força bélica Lusa foi um fator decisivo. No entanto, passados vários séculos da
morte da Rainha Njinga, a idéia da unidade do povo angolano ainda não
configurou-se. Ao final do século XX, vencida a luta contra o colonizador,
permanecem as disputas internas pelo poder, com ideologias marcadas pelo rancor
dos diferentes grupos étnicos na contra-mão da história.
4º - EKWIKWI
II do Bailundo. Ekwikwi II, foi outro herói da resistência, que reinou no
Bailundo no planalto Central de Angola há cerca de cem anos, com influência
notável em toda a região. Quando chegou ao poder, os portugueses já dominavam
todo o norte de Angola e preparavam para a penetração no interior do Planalto
Central em busca de cera, borracha e outros produtos. Nessas circunstâncias,
Ekwikwi resolveu preparar o seu povo militar e economicamente para enfrentar a
guerra prevista. Sendo assim, ele intensificou a agricultura, principalmente o
cultivo do milho, dieta indispensável na cultura dos Bantos. O milho era
enviado em caravanas para o litoral na base de troca com os sobados vizinhos.
As caravanas do bailundo, com o passar do tempo, passaram a avançar para outros
Estados. Com essas viagens, foram expandindo para as novas áreas da borracha e
colmeias, tornando o reino do Bailundo conhecido em toda a África Central como
o estado mais rico do planalto com vários produtos para o consumo interno e
exportação. A comunidade do bailundo viveu intensamente os modelos para a
defesa dos direitos e soberania dos estados do planalto baseados nos princípios
de Ekwikwi II que, além de fortalecer o seu exército, estabeleceu uma aliança
sólida com Ndunaduma I, rei do Bié, para fortalecer sua posição na região.
Ekwikwi II foi um rei progressista, dinâmico que sempre governou ao lado do seu
povo. Ele foi sucedido por Numa II, que, corajosamente, enfrentou a guerra
contra a pesada artilharia portuguesa no ataque à capital do Bailundo. Aos
poucos as forças militares portuguesas foram ocupando pontos estratégicos. O
Bailundo foi totalmente dominado, sem qualquer resistência a nova imposição
Lusitana.
5º- Mutu-Ya-Kevela.
Em 1902 os portugueses já tinham o domínio, e ocupação de grande parte do
território angolano. Na região do planalto houve a fixação de alguns
comerciantes portugueses em busca do milho, cera e borracha. Havia também fortificações
construídas em Huambo e Bié para apoiar as trocas comerciais e manter a
ocupação na região. Mesmo em pleno século XX, os portugueses mantinham o
recrutamento para trabalho escravo na agricultura. Mutu Ya Kevela, o segundo
homem mais importante na região, após o rei Kalandula do Bailundo, questionou
as autoridades portuguesas contra o trabalho forçado imposto pelos
imperialistas. Mutu-Ya-Kevela reuniu todos os sobados e reinos do planalto,
convocando 6000 homens contra as colunas militares portuguesas, que sufocaram
os rebeldes de Angola em 1902.
6º - Mndume,
Rei dos Kwanyama. O sul de Angola esteve sempre disputado pelos portugueses e
alemães. Aproveitando tal rivalidade, Mandume, rei do Kwanyama, conseguiu obter
armamentos dos alemães, que serviriam para lutar contra os portugueses.
Preocupados com uma futura ocupação dos alemães, os portugueses atacaram Njiva
de surpresa, antes que o mesmo organizasse a luta armada. Mandume fugiu,
iniciando em todo o território Ambó, uma tentativa de unir todas as tribos
contra os portugueses. Os Ambós, muito bem organizados, comandados por Mandume,
venceram os portugueses numa série de batalhas, obrigando os militares
lusitanos a buscar reforços. Os portugueses utilizaram um sistema que ambos
conheciam muito bem, corromperam parte da guerrilha Kwanyama, assim venceram as
batalhas de Mongwa e Mufilo. Sabendo da vitória dos portugueses, devido ao
grande poder de artilharia, e pela traição de alguns sobas, Mandume suicidou-se
em 1917, preferindo a morte do que viver sob a subordinação dos colonialistas.
Apesar da resistência e com a luta pela independência de alguns reinos, a
ocupação do litoral ocorreu por meio de um jogo de interesses comerciais entre
os portugueses e as diferentes tribos de Angola. A espionagem, evangelização e
tribalismos muito contribuíram para a ocupação tanto no passado, como no
presente. A configuração étnica de Angola, determina um provincianismo, ou
regionalismo, que dificulta a regulação social do Estado, em função dos
diferentes dialetos no mesmo território.
Segundo o
etnólogo português, José Redinha, em 1950, as principais etnias que habitavam
Angola, então com uma população de 3.989.486, estavam assim distribuídas.
TABELA 1:
Principais dialetos de Angola
ANO
1950
|
||
DIALETO
|
ÁREAS
DE INFLUÊNCIA
|
POPULAÇÃO
|
Umbundo
|
Bieno,
Bailundo, Sele, Sumbe ou Pinda, Mbui, Quisange, Iumbo, Dombe, Ihanha, Huambo,
Sembó, Cacondo e Chicuma.
|
1.443.742
|
Kimbundo
|
Ngola
ou Jinga, Bondo, Bangala, Halo, Cari, Chinje, Minungo, Songo, Bambeiro,
Quissana, Libolo, Quibala, Haco e Sende.
|
1.083.321
|
Kikongo
(Bakongo)
|
Vili,
Iombe, Cacongo, Oio, Sorongo, Muchicongo, Sosso, Congo, Zombo, Iaca, Pombo,
Guenze, Paca e Coje.
|
479.818
|
Lunda-Kiolo
|
Lunda,
Lunda-Lua-Chinde, Lunda Ndemba, Quioco, Mataba, Cacongo ou Badinga e Mai.
|
357.693
|
Ganguela
|
Luinbe,
Luena, Lovale, Lutchz, Gangela, Ambueta, Mambunba, Engonjeiro, Ngoliebo,
Mbaude, Cangala, Iashuma, Gengista ou Luio, Ncoia, Camachi, Ndungo, Nhengo,
Nhemba e Avico.
|
328.277
|
Nhaneka-Humbe
|
Muila,
Gambo, Humbe, Donguena, Hinga, Cuancua, Handa (Mupa-Handa-Quipungo),
Quilenge-Humbe e Quilenge-Muso
|
191.861
|
Ambo
|
Vale,
Cafima, Cunhama, Cuamato, Dombandola e Cuangar
|
62.141
|
Herero
|
Dimba,
Chimba, Chavicua, Cuanhoca, Mucubal e Guendengo
|
25.184
|
Hotentote-Bochimane
|
Bochimane,
Cazama
|
7.049
|
Vátua
|
Cuepe e
Cuissi
|
5.895
|
Xingonga
|
Cussu
|
4.505
|
Fonte:
VALAHU, M. (1968: 30-32).
De acordo
com a tabela, Angola conta com onze dialetos diferentes, sendo que metade da
população usa o Umbundo e Kimbundo.
Para
distinguir um reino do outro, em 1557, os historiadores deram ao reino dos
Kimbundos o nome de Ndongo - Ngola e Ndongo-Matamba, na região de Malange onde
viviam as tribos Jingas. O reino dos Jingas tornou-se famoso pela crueldade das
suas rainhas, que estenderam sua supremacia por toda parte da etnia Umbundo,
sendo que metade deste grupo era dominado pelos Kikongos.
Os
Kimbundos ocupam a região de Luanda, na direção norte-oeste, sendo vizinhos dos
Kikongos. Umbundos formam a maior tribo negra de Angola e ocupam o litoral e o
interior. Na porção Leste encontramos o grupo Lundo, que conjuntamente com os
Quiocos vivem na fronteira catanguesa. No sudeste temos as tribos mais
primitivas que são os Ganguelas.
Perante
essa "Babilônia", os Portugueses impuseram a sua própria língua sem a
qual aliás não é possível viver. Ao contrário dos Belgas, os Portugueses
recusaram terminantemente a falar as línguas indígenas. A imposição lusa no
aspecto lingüístico, que descaracterizou a identidade do povo angolano, foi a
segunda forma de dominação, pois militarmente a metrópole sempre foi superior
em todas as suas ações imperialistas.
Concluindo,
podemos observar na conquista territorial uma seqüência de determinações que
favoreceram a tomada portuguesa do território. Elementos como: diversidade
étnica, evangelização, poder bélico, espionagem e comércio fizeram parte de um
conjunto de estratégias que deram aos portugueses não só a posse do território
angolano, como também de Moçambique, Guiné Bissau, Cabo Verde, São Tomé e
Príncipe, Timor Leste e o Enclave de Macau, além da sua maior conquista que foi
a terra do Pau-Brasil.
1.1.
OCUPAÇÃO PORTUGUESA: DO LITORAL AO INTERIOR
Na
história da colonização portuguesa sempre esteve presente um imaginário, em
conjunto com os fatos reais encontrados nas vastas possessões de Portugal no
mundo. A ambição serviu como justificativa entre o discurso e a prática,
levando grupos, raças, etnias a uma degradação social incontestável na história
do homem ocidental. No caso de Angola, até ao final do século XIX, a presença
portuguesa limitou-se somente a pontos específicos e geopoliticamente
estratégicos na defesa do território como Luanda e Benguela, que através dos
seus portos asseguravam o transporte para o tráfico de escravos para o Brasil.
Durante quatro séculos esta atividade, que compreendeu as alianças iniciais
entre as coroas portuguesa e congolesa, foi uma das principais receitas do
Estado. A fixação no litoral representou uma das primeiras tentativas para a
ocupação final, já que a cada dia a penetração para o interior fazia-se
necessária para a obtenção da força escrava humana. Dessa forma montou-se uma
estrutura de intermediações entre os comerciantes do litoral e os pombeiros,
caçadores de escravos e tudo aquilo que fosse comerciável nas terras de Angola.
Apesar dessa intermediação, a expansão só ocorreu em função das pressões
internacionais desencadeadas pela "corrida ao Continente Africano",
sinalizada pela Conferência de Berlim, de 1884 que institucionalizou uma
divisão das fronteiras, em toda a África. Mesmo assim havia opções de tornar
Angola um centro de ocupação a partir do litoral, deixando a autóctones a
exploração dos recursos naturais, ou de ocupar o planalto com famílias européias,
intervindo no processo produtivo.
Justamente
nesse ponto havia divergências sobre qual seria o sistema ideal. Alguns
Governadores Gerais eram favoráveis a uma forte influência na zona próxima do
litoral, outros eram favoráveis ao despovoamento do sul de Portugal e da região
de Açores para a ocupação do sertão africano. No final do século XIX, já havia
um forte consenso para a ocupação do interior. Alguns fatos de fixação já eram
evidentes, como as 25 famílias oriundas do Recife, no litoral do Namibe, que
expandiam-se para as regiões da Bibala e Capangombe, em 1849, que representaram
uma tímida ocupação. Somente em 1885, cerca de 600 pessoas da Ilha da Madeira
vão ocupar o Planalto do Lubango. Segundo historiadores Angolanos, quase todos
os portugueses que emigravam para Angola eram condenados ou exilados na
metrópole. Isso tornou a colônia, durante séculos, uma masmorra ou presídio dos
colonos brancos em Angola. Enquanto não ocorria uma fixação total do
território, o tráfico de escravos mantinha as receitas da metrópole aquecidas,
pois os seus efeitos caracterizavam a seguinte situação, segundo Zenha Rela,
(1992:25).
"Existência de alguns estabelecimentos na
costa - principalmente Luanda e Benguela, onde a presença de portugueses
provocava a existência de estruturas sociais de tipo nitidamente colonial,
vivendo exclusivamente da atividade comercial; esta caracterizou-se até cerca
de 1840, pela exclusividade do tráfico negreiro e a partir desta data, foi
ultrapassada em função da abolição do tráfico, pelo comércio da borracha,
marfim e outros produtos tropicais, entre os quais começa a ter alguma
expressão o café. Estas estruturas que entre si não apresentam qualquer coesão,
correspondendo de fato cada estabelecimento a uma micro-sociedade específica,
definiam um elevado nível de estratificação social na qual destacavam dois
grupos: um constituído pelos europeus, mestiços e alguns negros ditos
assimilados (cultura dos brancos) e outro pelos não assimilados, os
"avassalados"; a existência individualizada destes grupos nos quais o
segundo funcionava como sendo uma "periferia" do primeiro, não
significava porém que as relações do núcleo central fossem homogêneas; pelo
contrário, verificava-se uma forte estratificação e uma grande diferenciação
mesmo entre o grupo colonizador, sendo de norma uma nítida e prévia separação
entre as zonas do funcionalismo público - civil e militar - e os comerciantes;
é também nestes núcleos que têm origem as "aristocracias locais"
negras e mestiças que desempenharão um papel extremamente importante em todo o
processo subsequente;
No que diz respeito às formações sociais locais, e
para além dos pequenos grupos absorvidos pelo colonizador, as suas relações com
este reduziram-se sempre a forma de "troca desigual" e apenas às
relações comerciais esporádicas".
Do ponto
de vista político, a ocupação representaria uma imediata resposta às pressões
internacionais, mas Portugal teria que encontrar formas alternativas na
implantação do sistema colonial, integrando Angola num modo de produção que suportaria
a carência do investimento. Esse custo teria que retornar aos cofres da
Metrópole de forma rápida e eficiente. A expatriação das riquezas do continente
que durante séculos foi feita mediante o tráfico, da venda de armas, pólvora,
bebidas alcoólicas, tecidos e missangas foi transferida para a exportação de
matéria-prima, de que o processo industrial europeu tinha necessidade, como:
fibras, óleos vegetais, minérios e produtos da pesca. Apesar das divergências
ocorridas em diferentes correntes colonialistas, somente em 1930 com a
publicação do Ato Colonial, é que se fixam definitivamente alguns princípios na
ocupação. Para Rela (1992:26),
"o sistema desenvolveu-se então, a partir dos
embriões pré-existentes, um sistema eco-cultural colonial integrado, cada vez
mais vasto e complexo, baseado nas cidades, nas concentrações agrícolas e
pecuárias, nas empresas de extração de minérios, etc. O centro deste sistema
foi constituído por uma imigração portuguesa cada vez mais acentuada. Houve uma
integração, muitas vezes precária, neste núcleo"
de um
número extremamente limitado de africanos assimilados e um número maior de
mestiços. Na periferia do sistema colonial, numa posição agregada e marginal,
encontrou-se um número crescente de africanos que constituíram a mão de obra
não qualificada (ou pouco qualificada), de quem o sistema precisava para o seu
funcionamento. Por outras palavras: a implantação efetiva do sistema colonial
encontrava a sua lógica interna quer no crescimento da disponibilidade de
matérias-primas para exportação, quer no aumento da capacidade de absorção de
bens de consumo, em grande parte importados; a forma de alcançar estes
objetivos exigia a participação, mesmo que marginal de um número sempre
crescente de produtores/consumidores e a sua adesão, traduzida em dois aspectos
concretos: o assalariamento e/ou a monetarização. Na ênfase de tais objetivos,
a metrópole acabou construindo mecanismos de dominação colonial que garantiu o
funcionamento e o desenvolvimento de uma cultura colonial que, mesmo após a
independência do país, ainda se reflete em muitos aspectos da cultura angolana.
Nesse mecanismo desenvolvido destacamos os seguintes:
"Apropriação de terras, tendente à
constituição de grandes empresas segundo princípios geralmente conhecidos como
recrutamento da força de trabalho que evoluiu de uma agricultura de plantação.
- implantação de um sistema de recrutamento da
força de trabalho, que evoluiu de um típico sistema de trabalhos forçados, para
esquemas de recrutamento que se diferenciavam dos anteriores sobretudo em
termos formais;
- Imposição de culturas obrigatórias, fundamentais
para o processo de desenvolvimento do colonizador - como o algodão - não sendo
permitido ao agricultor cuidar das suas culturas alimentares sem ter preenchido
a quota que lhe havia sido atribuída pelas entidades administrativas;
- Imposição fiscal excessivamente alta,
independente do rendimento gerado pelo agregado familiar (imposto de
capitação);
- Desmembramento absoluto das redes comerciais
locais pela proibição do comércio ambulante (funanço), obrigatoriedade de
localização dos estabelecimentos em povoações comerciais e estabelecimento de
regras muito apertadas de licenciamento comercial." (Rela, 1992:27).
O esquema
de recrutamento, determinado por uma imposição cultural e fiscal rígida, mais
tarde desencadeou a subdivisão étnica baseada em escala de valores hierárquicos
entre negros assimilados e não assimilados. Aos que usufruíam o estatuto de
assimilados, trocavam seus traços culturais em aceitação a cultura européia de
uma minoria branca; aos assimilados cabiam tarefas subalternas de pouca
expressividade, que para os brancos não lhe cabiam fazer. Aos não-assimilados,
na sua maioria considerados indígenas e rústicos, cabia uma política de
segregação, que os impedia de exercer qualquer cidadania, inclusive o direito
de ir e vir nos centros urbanos. Assim ao final da imposição colonial, ficou
difícil uma reestruturação ou uma expansão da migração para uma futura
integração da população periférica em único núcleo. Por outro lado, o
crescimento da população branca foi de pouca expressão, em função dos
preconceitos criados em torno da vinda dos futuros imigrantes, que consideravam
a África terras selvagens, povoada por indígenas canibais. Do século XIX até
início do século XX, era de aproximadamente 9000 habitantes, conforme mostra a
tabela 2:
TABELA 2:
Número de Brancos que Viviam em Angola (1848-1974)
ANO
|
NÚMERO
|
1845
|
1832
|
1900
|
9198
|
1920
|
20200
|
1940
|
44085
|
1950
|
78286
|
1960
|
172529
|
1961
|
162387
|
1970(*)
|
290000
|
1974(*)
|
335000
|
Fonte:
MANUEL, J. R. Z. Angola - Entre o presente e o futuro
(*)
Estimativa
Os dados
de censo populacional em Angola são contraditórios, primeiro, em função das
estratégias coloniais para ocupação, segundo, nos censos realizados, todos os
resultados ficavam sob a tutela do conselho ultra-marino que entendia que tais
dados facilitaram a organização militar para aqueles que lutavam contra a
metrópole.
De acordo
com a Tabela 2, somente neste século, houve um incremento considerável da
população européia, consolidando, então, o processo da ocupação colonial. Ao
mesmo tempo, criava-se entraves para uma futura aglutinação populacional, já
que essa população européia tinha como função prioritária uma "ação
civilizadora", voltada, na prática, para a exploração máxima da colônia,
devastadora do ponto de vista cultural para a nação Angolana, fortalecendo
adversidades locais e regionais no campo étnico, o que irá retardar o processo
de independência devido à lenta unificação das forças políticas nacionais.(...)
Nota:
Seguidamente o autor descreve a história de Angola moderna que já foi relatada
pormenorizadamente noutros textos deste site por isso achamos não ser
necessário repetí-la.
5.1 A Pré-História de Angola
A Pré-História
de Angola, começa com a Idade da Pedra acaba com o fim do
Período Neolítico - em geral de há quarenta mil anos até cerca do ano 1.000
depois de Cristo; cobrindo a proto-história dos povos pré-Bantos - Khoisan,
Pigmeus, Cuissis, e Cuepes, que desde longa data habitam o actual território de
Angola, até à chegada dos primeiros povos Bantos.
Por sua vez, o Período Pré-Histórico é geralmente dividido em épocas que incluem a Idade da Pedra, o Período Neolítico, e o povoamento do território pelos povos pré-Bantos Pigmeus, Khoisan, até à chegada dos primeiros povos Bantos à região no Séc.XIII, precursores do Antigo Reino do Congo.
Por norma, os Povos Cuíssis e Cuepes são classificados como pré-bantos, o que não quer dizer que existiam como povos diferenciados antes da chegada dos povos Bantos à região. Um número crescente de estudiosos partilha a opinião de que esses povos são de facto o resultado do cruzamento ou absorção de antigos grupos Khoisan pelos recém-chegados povos Bantos à região.
5.2 O Período Pré-Colonial
Por sua vez, o Período Pré-Histórico é geralmente dividido em épocas que incluem a Idade da Pedra, o Período Neolítico, e o povoamento do território pelos povos pré-Bantos Pigmeus, Khoisan, até à chegada dos primeiros povos Bantos à região no Séc.XIII, precursores do Antigo Reino do Congo.
Por norma, os Povos Cuíssis e Cuepes são classificados como pré-bantos, o que não quer dizer que existiam como povos diferenciados antes da chegada dos povos Bantos à região. Um número crescente de estudiosos partilha a opinião de que esses povos são de facto o resultado do cruzamento ou absorção de antigos grupos Khoisan pelos recém-chegados povos Bantos à região.
5.2 O Período Pré-Colonial
O Período
Pré-Colonial, que começa com a Idade do Ferro, as grandes
migrações dos povos Bantos, e o consequente estabelecimento dos reinos da
savana, até que termina na data da chegada dos Portugueses ao Antigo Reino do
Congo em 1481 - desde cerca do ano 1.000 depois de Cristo até aos fins do Séc.
XV, que inclui a época que vai
desde a chegada dos povos Bantos à região que hoje compreende o território de
Angola no Séc. XIII e a chegada dos Portugueses nos fins do Séc. XV.
Foi
durante o período Pré-Colonial que se formaram os primeiros estados Bantos na
região pelos povos Ambundos e Bakongo. Este período na história de África inclui a Idade
do Ferro, a origem dos povos Bantos e as suas grandes migraçõespara
a África Central e Meridional, os antigos impérios sudânicos, os
potentados do Golfo da Guiné, e os antigos estados Bantos que se estabeleceram
nas bacias dos rios Zaire, Cuanza, Queve (ou Cuvo), Zambeze, Cunene, Cubango,
Cuíto e Cuando, e os reinos Bantos dosGrandes
Lagos e da África
Oriental e Meridional.
5.3 O Período Colonial
5.3 O Período Colonial
O Período
Colonial, é definido pelos tempos de Angola colónia portuguesa
- de 1483 a 1975;
O Período Colonial,
começa com a chegada dos Portugueses ao Zaire em 1481 e termina com a
Independência de Angola em 1975. O Período Colonial pode ser dividido em três
épocas distintas:
a) Primeiro Período - A Época da Conquista
Portuguesa - Desde os primeiros
contactos com os Portugueses que chegaram ao Antigo Reino do Congo em 1481 e a eventual conquista
do Antigo Reino do Ndongo e
a fundação de Luanda em 1576 e o estabelecimento dos
fortes portugueses de Massangano em 1583 e Muxima em 1594 ao longo do curso do
Rio Cuanza. Durante este período, e como reflexão do mito do El Dorado
resultante do achamento de enormes quantidades de ouro e prata na América Central
e do Sul (civilizações Azteca, Maya e Inca) pelos Espanhois, a presença
portuguesa era dominada pela procura das famosas minas de prata de Cambambe e
do Sumbe Ambela, e em menor grau, pelo crescente tráfico de
escravos para São Tomé, Europa e Brasil.
b) Segundo Período -
A Época do Tráfico de Escravos,
inicialmente orientada para os engenhos de açúcar de São Tomé, ainda nos fins
do Séc. XVI, e depois para os engenhos de açúcar do litoral brasileiro
(Maranhão, Pernambuco e Bahia) até aos finais do Sec. XVII, e mais tarde para
as minas de ouro e diamantes de Minas Gerais e São Paulo. Depois da
independência do Brasil em 1822 a exportação de escravos de Angola foi em parte
orientada para os Estados Unidos e para Cuba, embora a maioria dos escravos
continuasse a ser absorvido pelo Brasil (Rio de Janeiro, São Paulo e Minas
Gerais), já depois da abolição da escravatura em 1836 em Angola e até 1888, ano
da proclamação da Lei Áurea no Brasil.
c) Terceiro Período - A Época de Exploração de Produtos Coloniais (produtos tropicais e minérios - mel, borracha, açúcar, café, algodão, tabaco, milho, diamantes, ferro, e petróleo) que começou em 1845 com o consulado do Governador Pedro Alexandrino da Cunha em 1845 e terminou com a independência de Angola em 1975. Esta época é principalmente definida pela Corrida à África pelas potências Europeias depois da Conferência de Berlim e o estabelecimento de impérios coloniais de estados europeus em África.
Foi durante este período que a ocupação efectiva do território pelos Portugueses se completou através das Campanhas Militares de Ocupação entre 1851 e 1925 (no contexto do imperialismo europeu e da Corrida à África), e a colonização branca do território se realizou, com a exploração mais intensa dos recursos agrícolas e mineiros.
c) Terceiro Período - A Época de Exploração de Produtos Coloniais (produtos tropicais e minérios - mel, borracha, açúcar, café, algodão, tabaco, milho, diamantes, ferro, e petróleo) que começou em 1845 com o consulado do Governador Pedro Alexandrino da Cunha em 1845 e terminou com a independência de Angola em 1975. Esta época é principalmente definida pela Corrida à África pelas potências Europeias depois da Conferência de Berlim e o estabelecimento de impérios coloniais de estados europeus em África.
Foi durante este período que a ocupação efectiva do território pelos Portugueses se completou através das Campanhas Militares de Ocupação entre 1851 e 1925 (no contexto do imperialismo europeu e da Corrida à África), e a colonização branca do território se realizou, com a exploração mais intensa dos recursos agrícolas e mineiros.
5.4 Angola
Estado Independente
Angola
como estado soberano, depois da Independência,
depois de 1975 até aos dias de hoje (2008). Angola Estado
Soberano, começa com a descolonização de África, passando pela luta de libertação nacional, descolonização
portuguesa,Independência,
breve experiência marxista-leninista, Guerra Civil, petróleo
bruto e diamantes e cleptocracia e corrupção, e por fim Angola
em paz e em
desenvolvimento.
posted by Helder Ponte | 5/29/2006 10:41:00 AM
O REINO DA MATAMBA
O Reino da Matamba (1631-1744)
foi um estado pré-colonial Africano localizado no que é hoje a Baixa de
Kassange na
região da província de Malanje da moderna Angola. Era um reinopoderoso
que resistiu muito tempo às tentativas de colonização, vindo apenas a ser
integrado em Angola no final do século XIX.
A primeira
menção documental do Reino da Matamba é uma referência de uma homenagem
efectuada ao Rei do Reino do Kongo, então Afonso I do Kongo, em 1530. Posteriormente,
em1535,
Afonso mencionou o Reino da Matamba como uma das regiões sobre as quais ele
governava. Não há informações da história da antiguidade do reino, e as
tradições orais modernas do reino, de momento, não adiantam nenhum dado nas
presentes investigações.No entanto, não parece provável que o Reino do Kongo
tivesse mais do que uma presença leve e simbólico no Reino da Matamba, e os
seus governantes foram, provavelmente, bastante independentes. O Reino da
Matamba, sem dúvida, tinha relações mais estreitas com o seu vizinho do
sul-sudeste o Reino do Ndongo, à
altura, tão poderoso como o Reino do Kongo.
Durante meados do século XVI, o Reino da Matamba era governado por uma Rainha
desconhecida, que recebeu missionários enviados pelo Rei Diogo I
do Kongo (1545 -
1561). Embora esta rainha tivesse recebido os missionários e, talvez,
permitiu-lhes pregar, não há nenhuma indicação de que o reino se tivesse
convertido ao cristianismo.
A chegada dos colonos
Português a Luanda em 1575, sob o comando de Paulo Dias de Novais, alterou a situação política, com os portugueses
a envolverem-se nos assuntos do Reino do Ndongo, o que levou à guerra entre o
Reino do Ndongo e de Portugal em 1579. Apesar de o Reino
da Matamba ter desempenhado um pequeno papel no início da guerras, a ameaça de
uma vitória portuguesa incentivou o governante da Matamaba (provavelmente um rei
chamado Kambolo Matamba) a intervir. Ele enviou um exército para ajudar o Reino
do Ndongo contra os portugueses, e com as forças dos exércitos combinados foram
capazes de derrotar os portugueses na Batalha
do Lukala em 1590.
Nzinga viveu durante um período em que o tráfico de escravos africanos
e a consolidação do poder dos portugueses na região estavam a crescer
rapidamente. Era filha de Nzinga a Mbande Ngola Kiluanje e deGuenguela
Cakombe, e irmã do Ngola Ngoli
Bbondi (o
régulo de Matamba), que tendo se revoltado contra o domínio português em 1618, foi derrotado pelas forças sob o comando de Luís Mendes de Vasconcelos. O seu nome surge nos registos históricos três anos mais
tarde, como uma enviada de seu irmão, numa conferência de paz com o governador português de Luanda. Após anos de incursões portuguesas para capturar
escravos, e entre batalhas intermitentes, Nzinga negociou
um tratado de termos iguais, converteu-se ao cristianismo para
fortalecer o tratado e adoptou o nome português de Dona Ana de Sousa.
No ano subsequente,
entretanto, reiniciaram-se as hostilidades. As fontes divergem quanto ao
motivo:
Ngoli
Bbondi teria se revoltado novamente, fazendo grandes ofensas aos portugueses e
derrotando as tropas do governador português João Correia de Sousa em 1621. Dona
Ana, entretanto, teria permanecido fiel aos portugueses, a quem teria auxiliado
por vingança ao assassinato, pelo irmão, de um filho seu. Tendoenvenenado o irmão,
sucedeu-lhe no poder.
ou
tendo os
termos do tratado sido rompidos por Portugal, Dona
Ana pediu a seu irmão para
interceder e lutar contra a invasão portuguesa. Diante da recusa de seu irmão, Nzinga, pessoalmente, formou uma
aliança com o povo Jaga,
desposando o seu
chefe, e
subsequentemente conquistando o reino de Matamba. Ganhou notoriedade durante a
guerra por liderar pessoalmente as suas tropas e por ter proibido as suas
tropas de a tratarem como "Rainha", preferindo que se dirigissem a
ela como "Rei". Em 1635 encontrava-se disponível para formar uma
coligação com os reinos do Congo, Kassanje, Dembos e Kissama.
Como soberana, rompeu os compromissos com Portugal, abandonando a religião católica e
praticando uma série de violências não só contra os portugueses, mas também
contra as populações tributárias de Portugal na região. O governador de Angola, Fernão de Sousa,
moveu-lhe guerra exemplar, derrotando-a em batalha em que lhe matou muita gente
e aprisionando-lhe duas irmãs, Cambe e Funge. Estas foram trazidas para Luanda
e batizadas, respectivamente com os nomes de Bárbara e Engrácia, tendo
retornado, em 1623, para Matamba.
A rainha manteve-se em paz
por quase duas décadas até que, diante do plano de conquista de Angola por
forças da Companhia
Neerlandesa das Índias Ocidentais,
percebeu uma nova oportunidade de resistir. Traída eventualmente pelos Jaga,
formou uma aliança com os holandesesque à época ocupavam boa parte da Região Nordeste do Brasil. Com o auxílio das forças de Nzinga, os holandeses conseguiram ocupar Luanda, de 1641 a 1648.
Em Janeiro de 1647, Gaspar
Borges de Madureira derrotou
as forças de Nzinga,
aprisionando sua irmã, D. Bárbara. Com a reconquista definitiva de Angola pelas
forças portuguesas de Salvador
Correia de Sá e Benevides, retirou-se
para Matamba, onde continuou a resistir.
Em 1657, um grupo de missionários capuchinhos italianos convenceram-na
a retornar à fé católica, e então, o governador de Angola, Luís
Martins de Sousa Chichorro, restitui-lhe
a irmã, que ainda era mantida cativa.
Em 1659, Dona
Ana assinou um novo tratado de paz com Portugal. Ajudou a reinserir antigos escravos e formou uma
economia que ao contrário de outras no continente, não dependia do tráfico de
escravos. Dona
Ana faleceu de forma pacífica aos oitenta anos de idade, como uma
figura admirada e respeitada por Portugal.
Após a sua morte, 7000
soldados da Rainha
Ginga, foram levados para o Brasil e vendidos como escravos. Os portugueses
passaram a controlar a área em 1671. Em certas áreas, Portugal não obteve controle total até
o século XX, principalmente
devido ao seu tipo de colonização, centrado no litoral.
No Brasil, o nome da Rainha Ginga é referido em vários folguedos da Festa de Reis dos negros do Rosário, onde reis-de-congo católicos lutam contra
reis que não aceitam o cristianismo.
Dona Ana de Sousa possuía
muitas variações do seu nome que, em alguns casos, eram completamente
distintos. Entre eles, mas não apenas, registam-se: Rainha Nzinga, Nzinga I, Rainha Nzinga Mdongo, Nzinga Mbandi, Nzinga Mbande, Jinga, Singa, Zhinga, Ginga, Ana Nzinga, Ngola Nzinga, Nzinga de Matamba, Rainha Nzingha de Ndongo, Ann Nzingha, Nxingha, Mbande Ana Nzingha e Ann Nzingha.
O reino do Ndongo (ou reino do Ngola) é o nome de um estado
pré-colonial africano na actual Angola, criado por subgrupos dos Ambundu.
Os registos mais antigos
acerca deste reino datam do século XVI. Ndongo foi -
como Matamba um dos
vários estados vassalos do Reino do Kongoque
existiram na área habitada pelos Ambundu. Ele foi liderado por um Rei cujo
título era ngola (que
deu origem à palavra "Angola").
Sementes de independência
Em 1518 o Ndongo enviou uma embaixada a Portugal
pedindo missionários e, indirectamente, pelo reconhecimento da sua
independência face ao Congo. Uma
missão portuguesa chegou ao Ndongo em 1520 mas disputas locais e talvez a
pressão do Congo forçou os missionários a abandonar. Afonso I do Congo levou os
missionários para o Congo e deixou o seu próprio padre no Ndongo.
Guerra de 1556
Por volta
de 1556, o Ndongo enviou outra missão a Portugal procurando ajuda
militar e oferecendo-se para ser cristianizado, mesmo apesar dos
oficiais portugueses da altura terem duvidado da sua sinceridade
religiosa. Em 1901, E. G. Ravenstein afirmou que esta missão foi o
resultado de uma guerra entre o Congo e o Ndongo, na qual o Ndongo saiu
vencedor e afirmou a sua independência. O mesmo disse Jan Vansina em 1966 (e a
partir daqui vários outros escritores), porém isto parece ter sido uma
incompreensão das fontes originais. O Ndongo poderá ter realmente visto a
missão como uma espécie de declaração de independência, já que a resposta do Congo à missão de 1518 sugere que ainda mantinha poder suficiente para prevenir
movimentos independentistas.
De qualquer forma, a
segunda missão portuguesa, liderada por Paulo Dias de Novais, neto do famoso
explorador Bartolomeu Dias, atracou
na foz do rio Kwanza
em 1560, juntamente com vários padres jesuítas, incluindo o notável Francisco
de Gouveia. A missão de Dias de Novais falhou igualmente, tendo ele voltado a
Portugal em 1564, deixando o padre jesuíta Francisco Gouveia para trás.
A colónia portuguesa de Angola[editar | editar código-fonte]
Em 1571 a coroa portuguesa providencia a Dias de Novais carta para
construir uma colónia em Angola, autorizando-o a fazer conquistas na região,
trazer colonos e construir fortes. Dias de Novais chegou a Luanda, situada então em território do Congo, dado o acordo do
Rei Álvaro I do Congo em recompensa pelo apoio de Portugal contra
o reino de Jaga.
Incapaz de conquistar
qualquer território por si mesmo, Dias de Novais fez alianças com ambos os reinos do Congo e Ndongo, servindo como exército mercenário.
Referências[editar | editar código-fonte]
Ilídio do
Amaral, O Reino do Congo, os Mbundu o Reino dos "Ngola" e a presença
Portuguesa de finais do século XV a meados do século XVI, Lisboa, 1996)
David Birmingham, Trade
and Conquest in Angola, Oxford, 1966
Beatrix Heintze, Studien
zur Gesichte Angolas im 16. und 17. Jahrhundert: Ein Lesebuch, Colónia,
1996
Linda Heywood & John Thornton, Central
Africans, Atlantic Creoles, and the Foundation of America, 1580-1660,
Cambridge, 2007
Luanda - O nome "Angola" tem raíz no termo "Ngola" que era título de um dos potentados Ambundos que
existia no Antigo Reino do Ndongo, entre o Anzele, Ambaca e Pungo Andongo (nas actuais
províncias do Bengo, Kwanza Norte, Kwanza Sul e Malange) no tempo do início da
expansão da influência dos portugueses sobre o Antigo Reino de Ndongo, na
segunda metade do Século XVI.
Ngola A Kiluanje (1515-56) foi o lider do potentado mais destacado do
Antigo Reino do Ndongo, sendo conhecido por Ngola A Kiluanje Inene (o Grande
Ngola). Ngola A Kiluanje Inene fundou uma dinastia do que mais tarde se havia
de vir a conhecer como o Reino de Angola, que entao compreendia, entre outros,
os distritos da Ilamba, do Lumbo, do Hari, da Quissama, do Haku e do Musseke.
Inicialmente o Ndongo era um chefado vassalo do Antigo Reino do Congo ate Ngola
A Kiluange Inene se declarar independente. Outros reis do Antigo Reino do
Ndongo independente foram o Rei Ndambi A Ngola (1556–c.1562), o Rei Ngola Kiluanje
kia Ndambi (c. 1562-c. 1575), o Rei NjingaNgola Kilombo kia Kasenda (c.
1575–1592), o Rei Mbandi Ngola Kiluanje (1592-1617), o Rei Ngola Nzinga Mbandi
(1617-1624), e a Rainha Nzinga Mbande (Ana de Sousa) que reinou de 1624 a 1626.
Em 1626 os Portugueses conquistaram o Reino de Angola, passando este a ser
vassalo de Portugal. Durante este periodo foram reis do Ndongo Dom Hari A
Kiluanje que governou em 1626, e o Rei Ngola Hari, que governou de 1627 a 1657.
O termo "Ngola" tem por sua vez raíz no termo "Ngolo", o que em quimbundo (língua do povo Ambundo) significa "força", deacordo com o "Ensaio de Diccionário Kinbundu-Portuguez", preparado por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, impresso na Typographia e Stereotypia Moderna da Casa Editora António Maria Pereira, e publicado em Lisboa no ano de 1893. O mesmo termo em quicongo (lingua do povo Bakongo) significa "rigor, força, fortaleza, ou robustez". Os Portugueses depreenderam assim que o Ngola era aquele que tinha força, aquele que era poderoso.
Apesar de inicialmente o nome e título de Ngola se aplicar sómente aos potentados e região ao longo do curso superior dos rios Lucala e Cuanza, o uso do termo passou a aplicar-se a outras regiões e chefes vizinhos que viriam formar eventualmente o núcleo do domínio português na região. Aos chefes Ngola os Portugueses chamavam-nos "Ngola" e à região chamavam as "Terras do Ngola".
Desde então, as terras vizinhas ao longo dos rios Lucala e Cuanza, sob a tutela dos Ngola e mais tarde conquistadas pelos Portugueses, passaram a ser chamadas e reconhecidas nos mapas e documentos oficiais da época como "Terras do Ngola", depois como "Terras d'Angola", e desde então a colónia portuguesa passou a chamar-se simplesmente "Angola".
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